“Você acha que com 50 anos a gente vira purpurina?” A frase do publicitário Osmar Rezende no documentário “Idosos LGBT – Sou 60” dá o tom da reflexão sobre o envelhecer da população LGBTQIA+.
Exibido na segunda-feira (26), no Cine 60+ Envelhecer LGBTQIA+, no MIS, o documentário é parte do diálogo entre a Subsecretaria para Pessoas Idosas e Subsecretaria LGBTQIA+ na construção de políticas públicas para a população idosa LGBTQIA+ de Mato Grosso do Sul.
“Estamos aqui para ouvi-los, ouvir da população e da Subsecretaria LGBTQIA+, para juntos pensarmos em soluções e políticas públicas”, ressalta a subsecretária de Políticas Públicas para Pessoas Idosas, Zirleide Barbosa.
Complementando a fala de Zirleide, o subsecretário de Políticas Públicas LGBTQIA+, Vagner Campos explicou que a escolha do documentário foi justamente para trazer à tona a questão do envelhecimento e a necessidade de deixar o legado de ações afirmativas e políticas públicas que contemplem todas as gerações.
“É fundamental olharmos a população LGBTQIA+ 60+ para traçar rumos. O documentário vai trazer todo o contexto e apontar elementos que precisamos fortalecer nas políticas públicas”, afirma Vagner.
“Idosos LGBT – Sou 60”
Em 29 minutos, o documentário reúne depoimentos da ativista e mulher trans Anyky Lima, do filósofo Leandro Paiva e do publicitário Osmar Rezende, para debater a questão do etarismo e da LGBTfobia, propondo uma discussão em cima do envelhecimento desta população LGBTQIA+.
Mediada por Plínio Domingues, a discussão após a exibição trouxe pontos de vista do público e rebateu preconceitos expostos no filme. Em sua fala, o mediador traçou um paralelo entre a militância e a resistência. “A militância nos ajuda a falar sobre as coisas que nos silenciaram, por exemplo, a questão do armário. Então, para mim, a Anyky Lima é fundamental para começarmos a discussão, a partir da história dela e os pontos de resistência através dos estigmas”, pontua.
Plínio ainda resgata a força de Anyky Lima para além do documentário, ao mencionar que no livro de João Nery, Anyky conta que na casa onde ela abrigava outras trans e travestis, quando uma ia ao médico, todas iam juntas. “Porque se a secretária chamasse pelo nome masculino, todas elas levantaram juntas e ninguém saberia quem era. Esta é uma prova de como a resistência ajuda a militância”, enfatiza Plínio.
Professor, Ben-Hur Spiacci Barbosa foi uma das pessoas que assistiu ao filme e participou da discussão. Ao expressar seu ponto de vista, Ben-Hur enfatizou que tem 58 anos e está ansioso para a aposentadoria chegar.
“Senti falta de pessoas negras nesse movimento LGBT+ do filme, e talvez nós podemos pensar que a população negra LGBT ainda é a que menos vive em relação à branca. Se a gente, branco, quase não chega na velhice, imagina a população negra?”
Parafraseando Anyky Lima, o professor reproduziu “nós temos que fazer a luta com palavras” ao se referir que é preciso falar sobre saúde física e principalmente mental. “O envelhecimento é uma questão de se preparar para a morte. Nós não podemos esquecer que ela é uma coisa que nos aguarda, e o Brasil é um dos piores lugares do mundo para se morrer”, afirma.
Servidor público e doutor, Marco Aurélio de Almeida, relembra que o movimento LGBTQIA+ foi construído a partir de muita luta, em especial, das travestis. “Todas as nossas políticas públicas vieram das travestis, elas quem deram a cara à tapa. E quando uma travesti consegue sobreviver até os 50 anos, as cicatrizes que ela tem, da história de vida dela”, comenta.
Marco chama atenção para a necessidade de se falar da população LGBTQIA+ não só na saúde, mas também no acolhimento, já que muitas pessoas são colocadas para fora de casa. “A gente consegue trabalhar em rede? Educação, saúde, e assistência que é o tripé básico das políticas públicas?” levanta a questão.
Psicólogo no Ibiss (Instituto Brasileiro de Inovações Pró-Sociedade Saudável Centro-Oeste), Gabriel Nolasco ressaltou a importância do diálogo entre as pastas da pessoa idosa e LGBTQIA+. “É uma atividade bem interessante porque tem essa interlocução com outras subsecretarias, e eu fico pensando em que medida a gente não precisa construir alianças com outros segmentos para conseguirmos ocupar espaços?”, defende.
Defensora pública do Estado e coordenadora do Nudem (Núcleo Institucional de Promoção e Defesa da Mulher), Zeliana Sabala, acrescentou à discussão o trabalho que o núcleo faz também às mulheres trans. “O Nudem não atende só a mulher cisgênero, e é importante divulgar e difundir isso, a mulher trans, a mulher lésbica, tem portas abertas na Defensoria”, enfatizou.
Ao agradecer a presença de todos, o subsecretário de Políticas Públicas LGBTQIA+, Vagner Campos destacou que as políticas são construídas a partir da interlocução entre poder público e movimentos sociais.
“Nós estamos num momento de retomada, de reconstrução, e o Governo de Mato Grosso do Sul tem este olhar, e nós vemos esta esta vontade política de trabalhar a temática como um espaço para ações, rodas de conversa, conferências, seminários. E é importante ressaltar no mês do Orgulho LGBTQIA+ estas características: visibilidade, luta e celebração”, finalizou Vagner.
Texto e Fotos: Paula Maciulevicius, Setescc